quinta-feira, 2 de abril de 2015

Racismo no futebol, dentro e fora do campo

Crédito: Stuart Miles
Até quando? Até quando veremos racismo no futebol e na TV, sem maiores consequências? Até quando a Constituição Federal será afrontada pelo racismo nesse esporte, dentro e fora de campo? 

O jogo Corinthians 4 x 0 Danúbio, ocorrido ontem à noite, pela Libertadores da América, cuja goleada, aliás, poderia ter sido maior, teve um episódio de racismo explícito e lamentável. Por volta de 20 minutos do primeiro tempo, Gonzalez, do time uruguaio, chamou Elias, da equipe paulista, de "macaco". 

A deplorável cena foi testemunhada por vários jogadores mais próximos da cena e também filmada pela TV, além de exibida na internet; portanto, não há como negar o fato. Houve tumulto e o juiz não tomou conhecimento do ocorrido, registrando-o em súmula. Elias, segundo se noticiou, teria reagido com um impropério dirigido à mãe do seu agressor.

A TV noticiou que Elias não fará nada contra seu agressor - seria por que ele reagiu ao insulto? -, mas e quanto ao Corinthians? O Clube deverá pedir que o fato seja registrado em súmula (e por que o juiz não registrou, afinal? Não ter visto explicaria?). Entrevistado, o presidente Roberto de Andrade, afirmou que a decisão do BO não é da Agremiação, mas dele, de Elias, o atleta agredido. De acordo com o presidente, ambos, clube e jogador, entendem que o que acontece em campo deve ser deixado dentro de campo. Como assim? Então um atleta estrangeiro vem ao Brasil, tenta humilhar um ser humano, infringe a Constituição diante das câmaras e fica tudo por isso mesmo? 

No ano passado, na Libertadores, assistimos a torcedores do Real Garsilaso, do Peru, tentarem humilhar o jogador Tinga, do Cruzeiro, emitindo sons de macaco quando esse tocava na bola. A Conmebol puniu o Clube com multa e avisou que a repetição de atos racistas implicaria a interdição do estádio. Agora, o que fará a Conmebol? Deixará por isso mesmo ou penalizará o Danubio? E se porventura penalizar, isso será feito por meio de uma multa pífia, conforme aquela aplicada ao Real Garsilaso, da ordem de US 12 mil (cerca de R$ 40 mil atuais), de acordo com a mídia? 

Também no ano passado, porém, no âmbito da Copa do Brasil, assistimos a uma torcedora do Grêmio tentar humilhar o goleiro do Santos, Aranha, chamando-o de "macaco", diante da TV. O time foi excluído da competição. E quanto à agressora? Pelo que vimos na mídia, ela foi afastada do seu trabalho e tem feito treinamentos anti-racismo. Sob o ponto de vista educativo, isso é bom, mas será suficiente? O treinamento educativo tem foco no futuro, mas e o erro passado?

E quanto à poderosa Fifa? Na Copa 2014, a Federação fez campanha contra o racismo, uma de suas bandeiras. Ela não deveria, também, monitorar esses eventos ao redor do mundo, no âmbito de suas confederadas, e reforçar a necessidade de punições mais duras? É importante destacar que não é apenas no futebol sul-americano que o racismo ocorre (os episódios anteriormente descritos estão longe de serem pontuais!); o futebol europeu, por exemplo, tem vários episódios a registrar.  

Em nossa opinião, a Fifa precisa endurecer, as Federações continentais e nacionais idem, com punições mais duras a clubes, agressores e juízes omissos, e, por fim, o processo judicial deveria ser instaurado independentemente de BO. Especialmente nos casos em que houver filmagem comprovando racismo, que afronta diretamente a Constituição. Quanto ao resultado de processos, deveria ter uma parte punitiva e outra educativa. 

Para o momento, com a palavra, a Conmebol, de quem se espera uma punição mais dura em relação àquela aplicada ao Real Garsilaso. Aliás, o próprio Danubio deveria, também, penalizar seu atleta de alguma forma, por comportamento simplesmente deplorável. E como fica a imagem pública do Danubio?

Bola Pensante

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