terça-feira, 25 de novembro de 2014

Por que o Cruzeiro é campeão do Brasileirão? (III / III)

Fonte: UOL

A Performance do Campeão - O que está por trás

O Cruzeiro já é o campeão. Por que isso aconteceu? Os números da equipe até a rodada 36, apresentados no primeiro e segundo posts sobre a pergunta do título acima são ancorados em fundamentos mais profundos.

Os fundamentos supracitados estão abaixo descritos, ainda que brevemente, com base em um conjunto de sete quesitos relevantes a um time vencedor. Segundo a nossa visão e a de outros torcedores que consultamos. Se desejar, veja mais aqui sobre esses quesitos.
                                                                                                       
1 - Integridade de escolha

Em nenhum momento, percebemos no Cruzeiro qualquer tipo de favoritismo por jogadores em especial, tendo o técnico Marcelo Oliveira procurado escalar os melhores que tinha a cada jogo, conforme o adversário e a necessidade do momento, meramente observando a condição física e a palavra da medicina da Toca da Raposa.

Aliás, não existiram, no time estrelado, figuras como a de Fred, da Seleção de Felipão, em má fase, porém, mantido pelo treinador, ou ainda, como Oscar, da Seleção de Dunga, que mesmo não jogando bem, é preservado pelo técnico e não entendemos por que. Aliás, por enquanto, Dunga não tem dado maior chance aos jogadores do Cruzeiro convocados, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart; pior para a Seleção, melhor para o Cruzeiro, diriam muitos torcedores.

2 - Consciência de coletividade

Em nossa percepção, o Cruzeiro é um time pautado pela união do grupo, mesmo que casos isolados de rusgas existam, os quais, aliás, não percebemos. Destaca-se o trabalho louvável do técnico Marcelo Oliveira que, mesmo com vários jogadores talentosos à sua disposição, conseguiu manter o clima ameno, saudável e sem espaço para estrelismos.

O que Marcelo, ex-jogador do Atlético MG bancado pela diretoria do Cruzeiro contra a primeira reação da torcida, alcançou não foi pouco, pois ficaram na reserva atacantes como Júlio Batista, Dagoberto e Borges, que poderiam ter exibido ataques de estrelismo, mas ninguém os viu agir assim. Além disso, jogadores lesionados e recuperados aguardaram sua nova oportunidade, como foi o caso de Bruno Rodrigo.

3 - Atitude

O Cruzeiro soube se impor à maioria dos seus adversários ao longo do Brasileirão, tendo nele alcançado o maior número de vitórias (23), bem como o maior saldo de gols (28). Isso não se constrói apenas com técnica, mas com atitude firme.

Especial destaque foram as partidas jogadas no Mineirão, também conhecido como Toca da Raposa III, nas quais o Cruzeiro, dominou e venceu praticamente 79% dos jogos ali realizados. No jogo contra o Goiás, especificamente, que não veio a Belo Horizonte facilitar a vida dos campeões, o time estrelado assegurou a vitória com muita persistência, sob chuva e tentando achar o caminho para o gol em um gramado com algumas “piscinas”.

Além disso, o Cruzeiro lutou para ter resultados fora de Belo Horizonte, alguns dos quais cruciais para a vitória no Campeonato, especialmente nas últimas rodadas. Ele soube vencer o Santos na Vila Belmiro, por 1 x 0. E soube virar o jogo contra o Grêmio, em pleno território dos oponentes, lotado pela torcida, trazendo a Belo Horizonte a vitória de 2 x 1. O time precisava dessas vitórias e as conseguiu com bastante espírito de luta.

4 - Respeito ao adversário

Neste quesito, o primeiro ponto a destacar é o discurso afinado entre o técnico e seus comandados ao longo do tempo. Marcelo Oliveira soube orientar seus jogadores para que esses não cantassem vitórias antes de seu momento; várias vezes, nas entrevistas dos mesmos, percebemos a influência direta do estilo do coach.

Destacamos, ainda, que em vários momentos o técnico recuou seu time, substituindo jogadores ofensivos por outros mais defensivos, visando proteger resultados e buscando o gol via contrataques. Aliás, a nosso ver, esse não é o estilo de jogo cruzeirense, mas, mesmo assim, funcionou várias vezes no Brasileirão.

5 - Boa execução de esquemas táticos

Em 2013 e 2014, quando conquistou o tri e o tetracampeonato no Brasileirão, o Cruzeiro jogou com o mesmo esquema tático, que é o 4-2-3-1, uma variação do 4-5-1. Mas houve diferenças na aplicação desse esquema entre o ano passado e este ano de 2014, no qual o time evoluiu. Destaca-se esse esquema é usado por outras equipes; porém, sem a performance vitoriosa da Raposa. O que ela fez e faz de diferente?

O primeiro aspecto a relatar diz respeito ao modo Cruzeiro de jogar. O time é essencialmente uma equipe ofensiva, qualidade que a distingue de muitas outras equipes nacionais. Além disso, seus jogadores podem executar a troca de passes rapidamente, trabalhando tanto com a bola no chão quanto com a bola aérea. Alguns têm maior facilidade para fazer gols com bola parada, mas esses são bem menos frequentes em relação aos demais.

Há outros atributos no 4-2-3-1 estrelado: 1) os volantes Lucas Silva e Henrique são técnicos, muito combativos e fazem, geralmente, boa conexão entre a defesa e o ataque; há exceções, como em recente jogo da Copa do Brasil, com o Atlético MG, quando essa conexão foi seriamente prejudicada; 2) os dois laterais, Egídio e Mayke (ou Ceará), são bastante ofensivos; 3) os meias Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart fazem a diferença no ataque, tendo sido, inclusive, convocados para a Seleção Brasileira. Ajudados pelos volantes e laterais, eles costumam engendrar contrataques mortais contra as redes adversárias; 4) o Cruzeiro dispõe, ainda, de jogadores leves como Willian e Dagoberto, capazes de surpreender. E outros mais no banco, como o experiente Júlio Batista.

6 - Talentos

Aqui, nos detemos para escrever mais do que nos outros itens. Pode-se afirmar sem medo de errar que o Cruzeiro tem o elenco mais qualificado deste Brasileirão 2014. Como a agremiação conseguiu essa proeza? A nosso ver, vários fatores contribuem para isso e o principal é a gestão do clube, que tem atuado de forma diferenciada em relação à de outros clubes nacionais, por meio de várias ações.

Na gestão do Cruzeiro Esporte Clube, cujo presidente é o advogado Gilvan Pinho Tavares, destacamos, como observadores externos, a fixação do objetivo de montar um time ofensivo e altamente competitivo, o planejamento, a contratação em geral bem feita, o incremento de receitas por meio de um programa de sócios torcedores com mais de 60 mil associados e o pagamento de salários e prêmios em dia entre outros tópicos.

Esse modus operandi, associado à estrutura séria e ao bom clima que reina na Toca da Raposa, tem interessado aos jogadores, que se mostram satisfeitos no Cruzeiro, mesmo que alguns sonhem em jogar fora do Brasil, o que aliás é legítimo.

No caso específico da contratação, destacamos inicialmente a do técnico Marcelo Oliveira, que tem feito um trabalho sério e com êxito. Conforme dito anteriormente, Marcelo equilibra um elenco talentoso, com jogadores que poderiam, eventualmente, se manifestar de maneira contrariada em relação ao fato de ficarem no banco de reservas. Até onde temos visto, não se registram maiores problemas, ainda que existam anseios que não vemos.

Ainda sobre a contratação, ela tem sido competente em identificar jogadores com qualidade e bom potencial de aproveitamento e que, no Cruzeiro, deslancharam, sendo exemplos Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Marcelo Moreno. Além dos contratados externos, ressaltam-se os bons frutos egressos da base do Cruzeiro, como Lucas Silva, Mayke e Alisson, sendo que esse último não teve tanta oportunidade de ajudar o Cruzeiro como os outros dois, visto ter-se lesionado.

No que tange aos seus homens-gol, Ricardo Goulart e Marcelo Moreno são os artilheiros, respectivamente com 15 e 14 gols cada um, mas vários outros jogadores cruzeirenses contribuíram fazendo gols durante o Brasileirão, incluindo zagueiros como Dedé e Léo.

Após tudo isso, é fundamental dizer que o time dispõe de um goleiro de alto nível, bastante regular ao longo de cerca de 10 anos e que - pasme! - nunca foi convocado para a Seleção Brasileira: Fábio, capitão do time. Não compreendemos por que isso acontece. Adorado pelos torcedores e especialmente por crianças, Fábio já adentrou a galeria dos grandes jogadores cruzeirenses e encontra-se a caminho de se tornar uma das lendas do time estrelado.

7 - Entrosamento

Com dois anos de jogo conjunto, houve evolução no entrosamento entre os jogadores, o que contribuiu sobremaneira para o novo título. Destacamos, em especial, que a dupla Evérton-Goulart ganhou, em 2014, mais qualidade ainda em seu futebol. Aliás, questionamos se Dunga dará uma oportunidade real e verdadeira, à dupla; por enquanto, não vimos, e muitos torcedores, manifestando indiferença pela Seleção (após os 7 x 1 contra a Alemanha na Copa do Brasil), não se importam. Mas não deixa de ser injusto.

Não sabemos se o perfil de vários jogadores do Cruzeiro pesa no entrosamento entre eles fora e dentro de campo, mas constata-se que a grande maioria é casada e, aparentemente, do tipo caseiro: raramente se houve falar de badalações com a presença de jogadores. Outro ponto percebido é o das manifestações de religiosidade coletiva, possivelmente liderada pelo goleiro Fábio.

Assim ...

Com base nesses singelos comentários, concluímos: é por isso tudo e mais o que não vimos que o Cruzeiro é o melhor time do Brasil em 2014, como foi em 2013. E é te-tra-cam-pe-ão!, para alegria de sua torcida.

Bola Pensante

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